domingo, 7 de abril de 2013

«Uma casa de família», de Natasha Solomons - OPINIÃO





Ficha Técnica:
 
  • Editora: Edições Asa
  • Data de Publicação: 01-2013
  • Encadernação: Capa mole - 416 páginas
  • Idioma: Português
  • ISBN: 9789892321561
  • Dimensões do livro: 155 x 235 mm



  • Sinopse:

    Na primavera de 1938, a ameaça nazi paira sobre a Europa.
    Em Viena, a cosmopolita família Landau vê desaparecer muitos dos seus amigos e teme pela sua segurança. A decisão de fugir do país é dolorosa mas inevitável. Não poderão partir juntos. Elise, a filha mais nova, é enviada para Inglaterra, onde a espera um emprego como criada de uma família aristocrática. É a única forma de garantir a sua subsistência e segurança. Para trás deixa uma vida privilegiada, levando consigo apenas algumas roupas e um violino.
    Em Tyneford, ela tenta encontrar o seu lugar na rígida hierarquia da casa. É agora uma das criadas, mas nunca antes trabalhou. Tem a educação e os hábitos da classe alta, mas não pertence à aristocracia. Enquanto areia as pratas e prepara as lareiras, usa as magníficas pérolas da mãe por baixo do uniforme. Sabe que deve limitar-se a servir, mas não consegue evitar o escândalo ao dançar com Kit, o filho do dono da casa. Juntos vão desafiar as convenções da severa aristocracia inglesa numa história de amor que tocará todos os que os rodeiam.
    Mas o mundo está a mudar. E Elise tem de mudar com ele.
    Em Tyneford, ela vai aprender que é possível ser mais do que uma pessoa. Viver mais do que uma vida. Amar mais do que uma vez.

    Opinião:

    «Uma Casa de Família» foi a minha melhor aquisição de 2013. Hoje, passados alguns dias de ter terminado o livro, olho para a capa e parece-me impossível que esconda no seu interior tantas histórias, tantas vidas e tantas perdas. Custa-me a crer que seja um simples livro. Quem o leu, sabe que não é.
    A história decorre entre os anos de 1938 e 1945, quando a Segunda Guerra Mundial ameaça o Mundo. Elise, uma austríaca judia, é obrigada a sair da sua própria casa em Viena e a abandonar os pais e a irmã para se refugiar na Casa de Tyneford, em Inglaterra, como criada. Vive os primeiros meses na esperança de que os pais consigam o seu visto para Nova Iorque e que a mandem buscar.  Vemos ao longo do livro um emaranhado de ilusões e esperanças completamente destruídas e isso provocou-me um aperto no coração. A solidão de Elise, apenas colmatada por poucas cartas que vão chegando da irmã, é finalmente abraçada pelo amor, quando a jovem conhece Kit nas águas da praia de Tyneford. Confesso que me ri algumas vezes com o inglês arranhado de Elise logo nas primeiras cenas. Achei-a muito querida e engraçada. Infelizmente, essas foram as raras cenas em que gargalhei ao longo da história. A obra, em si, é dramática, pesada e trágica e isso fez-me chorar bastante ao longo das páginas. A autora tem o dom de nos fazer arder os olhos em cada capítulo e mais especificamente nos últimos parágrafos desses capítulos. O facto de ela dar sempre a entender que fala de uma história do passado torna as coisas muito mais tristes e leva-nos a acreditar quase sempre que a história terminou muito pior do que possamos imaginar.
    Achei muito interessante a forma como a autora, narrada na voz da personagem principal, Elise, lida com o tempo e o envelhecimento. Quantos de nós não fazemos isso? Ela passa grande parte da história a tentar anular o tempo, a tentar fazê-lo parar, como uma simples fotografia, mas o tempo é cruel e nunca pára. Foram raros os livros que me provocaram este sentimento no coração, de desilusão e de perda. Vivi e sofri com a Elise, sonhei e fui feliz com ela. De acordo com a autora, as personagens da obra são fictícias, embora Elise tenha sido baseada na sua tia-avó, mas custa-me a crer que sejam de facto fictícias. Para mim, foram muito reais, e mesmo passados dias de ter largado o livro, continuam a arder-me os olhos de pensar nesta história. Confesso que depois de todo o sofrimento pelo qual Elise passou, desejei desesperadamente que Kit, o filho do dono da casa por quem ela se apaixona, regressasse algum dia para lhe "despir as meias", tal como Elise sonhou tantas vezes. O facto de não ter existido uma despedida, o facto de aquela última carta que ele lhe enviou estar em branco, provocou-me um aperto no coração e um sabor amargo na boca. Sofri com este amor como não me lembro de ter sofrido por nenhum outro, mas adorei Elise, uma mulher forte e destemida que acaba por sobreviver perante a dor de tantas perdas. Sofri por Anna e Julian, pelo sofrimento que passaram nas mãos dos alemães nazis. Sofri pela distância que a guerra impôs sobre aquela família e aquelas duas irmãs, separadas pelo tempo e pelo espaço. Posso dizer que esta história mudou a minha visão das coisas e da vida. Do amor. E tornou-me mais solidária com todos aqueles que viveram e sofreram na época desta guerra. A história do livro não é justa, mas também a vida nem sempre é justa, o que tornou o livro muito real e poderoso como nenhum outro.
    Confesso que nunca esperei que a relação entre Elise e o sr. Rivers evoluísse no sentido em que evoluiu, mas essa mudança na história fez-me abrir um sorriso e sentir uma felicidade quase plena por Elise. Adorei o facto de se terem unido no amor e na tragédia. Foi lindo e profundo. E o que dizer do romance no violino? Na altura, quando Elise parte o violino para retirar o último romance do pai, não compreendi porque estaria em branco. Agora, compreendo. Este romance deveria ser sobre a história daquela família e a história de Elise, acima de tudo, uma história que ela acabou por escrever. Talvez Elise nunca tivesse tido o dom do canto e da música, como a mãe e a irmã, mas sem dúvida que herdou o talento romancista do pai. Quem não leu esta obra desta autora tão jovem, de apenas 32 anos, não sabe o que perde. Esta história tem o poder de mudar vidas. Mudou a minha.
    Deixo-vos com uma das minhas expressões favoritas (mas são tantas) descrita logo no início da obra. Não deixem de ler! Este foi um dos melhores romances que li até hoje. Poucos me levaram a folhear a obra inúmeras vezes à procura das partes mais bonitas, mesmo depois de a ter terminado. E confesso que não consegui ler outra coisa nos dias seguintes, pois não queria e não quero esquecer esta história. Não quero abandonar Elise, nem Kit, nem o sr. Rivers, nem sequer Anna, Julian e Margot. Não vou desejar esquecê-los nunca. Tenho-os guardados no coração.
    "Essa Elise que eu era então, diria que sou uma velha. Mas está enganada. Eu ainda sou ela. Estou de pé, na cozinha, de carta nas mãos, a observar os outros, e sei que tudo tem de mudar".

     
     
     


    2 comentários:

    1. Desde que vi este livro que fiquei com uma vontade enorme de o ler, mas nunca pensei que fosse assim muito dramático.

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    2. Addle, é dramático, mas eu adorei!
      É mesmo um livro a não perder, que me marcou imenso :)

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