domingo, 14 de julho de 2013

«O Funeral da Nossa Mãe» - Célia Loureiro - OPINIÃO





Ficha Técnica:
 
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 438
Editor: Alfarroba
ISBN: 9789898455482

 
 
Sinopse:
 
Quando Carolina Alves se suicida, aos 58 anos, deixa um último pedido: o de que as suas três filhas se reúnam no seu funeral, na pequena povoação (fictícia) de Vila Flor, Alto Alentejo.Quer que participem na festa em honra da padroeira da mesma, pondo de lado o decoro esperado de três órfãs.

Luísa emigrou para França, é viciada em trabalho e despreza o seu passado. Praticamente jurara não voltar a pisar a vila da sua infância. Cecília, recentemente casada, é pianista de fama relativa e acabara de se mudar definitivamente para Vila Flor. Inês, que dedica a sua juventude às causas políticas, mal recorda um pai de quem se vai falar bastante e que morreu num trágico acidente de carro em vésperas de Natal...

Com a ajuda de Elisa, única irmã de Carolina, vão desvendar ao longo de quatro dias o passado inesperado da mãe, que não é bem aquilo que tinham julgado, e que cometeu um acto indesculpável para prender, há trinta e oito anos atrás, aquele que viria a ser o pai das suas três filhas...

 
Opinião:
 
«O Funeral da Nossa Mãe» é o segundo livro publicado da autora Célia Loureiro e foi a minha estreia com a autora. Meu Deus, que escrita! Amei cada palavra, de uma profundidade e de um sentimentalismo notáveis. A minha primeira reacção ao ler as primeiras linhas foi pensar no quão a autora é inteligente e madura, sendo tão jovem. É de louvar os temas que aborda e a forma como o faz, demonstrando uma experiência de vida que é difícil ter nesta fase da sua juventude.
A obra trata a história de três irmãs completamente distintas e separadas pelas circunstâncias da vida, que acabam por unir-se na tragédia, após o suicídio da mãe. Adorei cada uma delas, com personalidades devidamente vincadas: A Cecília, tão sonhadora quanto a própria mãe, que se refugia no piano para afastar os problemas, de um carácter ingénuo e encantador, que me arrebatou com aquela união ao Luís, o amigo e o amor de todas as horas; A Luísa, forte e destemida, uma mulher de armas e prática, pouco dada a sentimentalismos e irritante, por vezes, por ser tão terra-a-terra; e, por fim, Inês, a minha preferida, uma jovem mal-humorada e um pouco desbocada, que vê os homens como um todo, quando toca a estreitar relações, e que se sente reticente em confiar em qualquer um deles, até que João Pedro lhe muda o sentido da vida e lhe começa a amolecer o coração. Gostei da história por detrás desta Inês pouco feminina e que ninguém compreende e sofri com ela, quando era ainda uma criança, na casa de Julio e Leonor, e naquele diálogo magnífico que ela mantém com o João, por volta das duas da manhã, nas ruas de Vila Flor. Tive pena do rumo que as três irmãs tomaram ao longo da vida por causa do casamento fracassado dos pais e senti-me realizada quando finalmente se uniram em três dias longos e intensos, numa relação profunda que só os irmãos podem partilhar. Espero que dure a vida inteira.
É um romance bem estruturado e todas estas personalidades estão extremamente bem desenvolvidas, tendo em conta o passado das personagens e a vida conjugal dos próprios pais, Carolina e Lourenço, cuja história é contada ao pormenor. Não odiei a Carolina pelos erros que cometeu no passado. Era uma mulher sonhadora que fazia tudo por Lourenço, primeiro um amigo de longa data, depois uma paixão assolapada e sempre escondida e, por fim, um marido forçado. Tudo o que ela fez foi por amor e tive pena dela por não ter sido mais feliz, naquela insegurança dela e no alheamento da realidade, quando tudo o que importava era Lourenço. Tive pena que não conseguisse amar-se a si mesma mais do que ao próprio marido, e que não tivesse visto as filhas de outra forma. Já o Lourenço, foi para mim uma personagem estranha e ambígua: atraente e pouco afável, distante e retraído. Sinceramente, nunca o consegui perceber verdadeiramente, nem aos seus próprios sentimentos, e gostava de ter visto mais paixão da parte dele, embora compreenda que desejou sempre castigar a mulher por tudo o que lhe causou. Não gostei muito da Ingrid, achei-a snobe, algo cínica e sem grandes objectivos de vida, embora o Afonso tenha sido para ela uma lição que aprendeu a carregar no peito. E entre todos os personagens que, na minha opinião, deram vida à história, falta-me o Vicente, o marido recente de Cecília e o seu eterno segundo homem, que apesar dos defeitos, cativou-me por ser um homem extremamente atencioso, bem-humorado e apaixonado. Embora tenha tido algumas atitudes condenáveis, não é um homem que eu tenha odiado, pelo contrário, desculpei-o por todos os comportamentos que ele tinha com a Cecília, apesar das mentiras e verdades ocultas.
«O Funeral da nossa mãe» foi um livro que me soube a pouco no final, por ser tão bom e por desejar mais! Quero a continuação e quero também ler mais livros desta autora portuguesa, que é uma das provas de que há bons escritores em Portugal. Uma escrita maravilhosa, uma história memorável com personagens credíveis, diálogos e pensamentos sensíveis e que, confesso, me levaram às lágrimas algumas vezes. Desejo as maiores felicidades à Célia e que nunca páre, porque nasceu para isto. Espero um dia chegar apenas aos seus calcanhares. Obrigada por esta obra maravilhosa!

2 comentários:

  1. Boa noite!
    Comprei o livro diretamente à escritora e estou ansiosa por lê-lo. Esta crítica deixou-me ainda com mais vontade.
    Beijocas e obrigada

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  2. Tenho-o!
    Vai ser das minhas próximas leituras ;)

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